Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Os políticos não devem ser os únicos alvos da esperada delação de Eduardo Cunha. Para negociar um acordo, a Lava Jato quer exigir que o ex-deputado entregue as empresas que frequentaram seu movimentado balcão de negócios. A lista é longa e eclética. Inclui bancos, empreiteiras, seguradoras, frigoríficos e grupos de mineração.
O correntista suíço forjou alianças de sangue com boa parte do PIB brasileiro. Com apetite voraz, intermediou lobbies milionários e usou sua influência para ditar a pauta econômica do Congresso. Foi coroado o rei dos jabutis, as emendas exóticas incluídas em medidas provisórias.
De acordo com as investigações, Cunha construiu um gigantesco propinoduto entre as empresas e a política. Assim, engordou seu caixa pessoal e financiou mais de uma centena de campanhas, pavimentando a rota até a presidência da Câmara.
Quem acompanhou a ascensão do dono da Jesus.com sabe onde encontrar alguns fios do novelo. Se os procuradores quiserem, podem começar a puxar pela MP dos Portos, aprovada em maio de 2013. Então líder do PMDB, Cunha peitou o governo e capitaneou uma iniciativa que foi apelidada de "emenda Tio Patinhas".
A alteração favoreceu empresas poderosas como o Grupo Libra, que opera no porto de Santos. No ano seguinte, seus sócios ajudariam a financiar a campanha de Michel Temer à Vice-Presidência da República.
Como bom monarca, o rei dos jabutis sabia agradar os súditos. Sua corte chegou a reunir políticos de diferentes partidos, como PT, PP, PSDB e DEM. "Tinha meia dúzia que participava de tudo, e o resto recebia a ração depois que a MP era aprovada", conta um peemedebista que frequentava o gabinete do novo detento.
A clientela de Cunha era maior e mais ampla que o cartel de empreiteiras do petrolão. As referências à companhia aérea Gol, citada em seu pedido de prisão preventiva, parecem ser apenas um aperitivo do que ainda está por vir
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