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Eduardo Cunha ainda é um célebre desconhecido


Janio de Freitas - Folha de S.Paulo
Eduardo Cunha ainda é um desconhecido. Não só do público que se gratifica com sua prisão. Mesmo do jornalismo, dos que se intitulam cientistas políticos, da polícia até, como da Justiça. A esses setores que têm a atenção por ofício, porém, Eduardo Cunha não negou oportunidades desde a sua primeira fatia de poder de influência.
Jovem presidente da Telerj, originário do gabinete de Abi-Ackel, ministro da Justiça de Figueiredo, com passagem pela campanha de Collor como auxiliar de PC Farias, Cunha não demorou a introduzir uma novidade muito apreciada. Entre os custos da telefônica, incluiu uma quantidade progressiva de pagamentos mensais, a destinatários fixos e com a peculiaridade de nada fornecerem à empresa.
As inquietações da moeda dificultam a citação de valores. Mas não inferiorizam a ideia de que mesmo hoje seria alta a verba dada, mês a mês, a cada um dos deputados admitidos à gentileza. Seria injusto com Eduardo Cunha e com os deputados restringir essa cadeia da felicidade a políticos. O segmento da comunicação teve também o seu reconhecimento, com uma corrente de jornalistas, pessoal de TV e rádio, sem discriminação contra alguns dirigentes e mesmo proprietários. Eduardo Cunha e a Telerj promoviam a melhoria da renda per capita.
A interrupção do governo Collor deixou sobrevida pequena a Eduardo Cunha no meio oficial, durante o governo Itamar Franco. Mas sua ascensão na iniciativa privada, e põe iniciativa nisso, não foi menos veloz. Eduardo Cunha aproximou-se de Jorge Serpa, expoente, por décadas, em intermediação do poder econômico com o poder político. Não é lobby, é uma atividade em altos níveis, no mundo sigiloso, quase sempre para procedimentos que contornem as vias e soluções convencionais em negócios.
Basta um episódio para bem ilustrar a nova escala de Eduardo Cunha. Jorge Serpa e ele foram os principais criadores da nomeação, muito improvável, de um novo desembargador federal. Era um ex-assessor de Cunha, como advogado do departamento jurídico da Telerj. Ao desembargador ficou atribuída, no mundo dos sigilos, a rota misteriosa em que entrou o processo protagonizado por Eduardo Cunha e pelo doleiro argentino Jorge La Salvia, ex-procurador de PC Farias em determinadas transações.
O processo resultou da constatação de práticas originais na Cehab, presidida por Cunha no governo Garotinho. Uma dessas criações consistiu em negociar com cartórios a realização das escrituras referentes aos terrenos e a 140 mil moradias. Os compradores perdiam o desconto, dado a pessoas de renda baixa, outros o recebiam, e ainda havia o pagamento do cartório pela escolha. La Salvia, como o colega brasileiro, apareceu depois em mais inquéritos.
Eduardo Cunha não faltou, também, a quem preferisse assunto mais propriamente policial. Genro, em seu primeiro casamento, do coronel Dytz –um daqueles tantos coronéis que povoavam os palácios no governo Figueiredo, Dytz para comprar e vender cavalos do general– Cunha teve à época uma vida familiar conflituosa. Na qual não faltou sequer uma arma de fogo em sua mão. Com a afirmação logo corrente, e não encontrada em noticiário algum, de que sua então mulher estava ferida, diziam, em uma perna.
Eduardo Cunha é um desconhecido, inclusive, da Lava Jato. Foram bloqueados R$ 220 milhões seus. Em junho. Desde então, não acharam um centavo que fosse bloqueável. A Lava Jato diz que o dinheiro de Eduardo Cunha equivale a 53 vezes o declarado ou identificado. Ninguém, a não ser o próprio, sabe quanto Eduardo Cunha tem, em que lugares está distribuído o que tem, e que bens possui. É o desconhecido, afinal

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