Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
"Uns vão me chamar de herói, outros de vilão e golpista. Esses rótulos não me preocupam." Assim o deputado Jovair Arantes, do PTB, começou a apresentar seu relatório na comissão do impeachment. Ele defendeu a cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff, de quem se dizia aliado.
O deputado citou 13 vezes a palavra "golpe". Apesar do que disse, parecia preocupado com a pecha. "Muito se tem dito nos últimos dias que esse processo seria um golpe contra a democracia. Com todo o respeito, ao contrário", afirmou.
Jovair acusou Dilma de praticar crime de responsabilidade em atos orçamentários, como as pedaladas fiscais e a abertura de créditos suplementares por decreto. O relatório ignorou as denúncias de corrupção na Petrobras, principal foco dos protestos de rua contra o governo.
Pareceu uma opção prudente. Dos 65 integrantes da comissão do impeachment, 40 receberam doações de empreiteiras investigadas na Lava Jato. Ao menos no papel, a presidente será julgada pela gestão fiscal, tema que não costuma despertar muito interesse na Câmara.
O relator demonstrou pouca intimidade com o texto que assinou. Em diversos momentos, tropeçou nas palavras e pareceu não compreender termos jurídicos do parecer. Dentista, ele integra a bancada da bola, que defende os interesses da CBF.
A sessão foi transmitida ao vivo e ofereceu cenas de bate-boca e pastelão. Jovair chamou de "saudoso" o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh. "Ele não morreu", corrigiu o deputado Chico Alencar, do PSOL. "Se não morreu, melhor para a gente", emendou o petebista.
Em seguida, o deputado surpreendeu os colegas ao citar o médium Chico Xavier. "Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim", recitou. Não ficou claro se ele se referia ao fim da leitura, do processo de impeachment ou do governo Dilma.
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