Por Fernando Canzian / Folha de São Paulo
As manifestações de hoje pró moradia e contra o impeachment da presidente Dilma e as previstas pela CUT no domingo, Dia do Trabalho, antecipam tempos ainda muito difíceis à frente dos trabalhadores no Brasil.
A única boa notícia no horizonte para quem trabalha e para as pessoas mais pobres é a queda da inflação, que pode perder mais de três pontos percentuais em 2016 e fechar o ano abaixo de 7%.
De resto, o desemprego (hoje em 10,2%) pode ultrapassar os 12% até o fim do ano, impondo perdas cada vez maiores à renda do trabalho. Nos últimos 12 meses, o rendimento médio real caiu 4%, ficando em R$ 1.934 (era R$ 2.012 há um ano).
O novo governo Temer terá de conviver com esse cenário, que tende a se deteriorar ainda mais antes de começar a melhorar.
Se o peemedebista escolher mesmo Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda ele não só agradará o mercado como tentará restringir eventuais críticas à sua política econômica de um Lula potencial candidato em 2018 e na oposição a partir do afastamento de Dilma Rousseff.
O novo ministro deverá tomar medidas que darão munição à oposição que sairá do pós-impeachment, com PT à frente de movimentos de trabalhadores que serão prejudicados.
Meirelles foi presidente do Banco Central sob Lula entre 2003 e 2010. O mais longevo no cargo, entregou em quase todos os anos a inflação dentro da meta, o que foi fundamental para o longo período de crescimento sob o petista.
Até poucos meses, era Lula quem queria Meirelles na Fazenda do governo Dilma Rousseff. A presidente rejeitou o nome, dizem, porque o provável futuro ministro de Temer demandou independência para agir.
Além de tentar conter o desemprego, o novo governo terá o enorme desafio de segurar o incontrolável crescimento dos gastos públicos, especialmente na área social, sem que seu governo passe a ser identificado rapidamente como responsável por aprofundar a crise.
O quadro abaixo mostra como os gastos sociais cresceram como proporção do PIB nos últimos anos.
Em pouco mais de uma década, houve um aumento de quase 3 pontos percentuais nas despesas sociais, enquanto os investimentos estatais ficaram estagnados.
O gasto social cresceu especialmente por conta da política de reajuste real do salário mínimo, que indexa benefícios previdenciários e alguns assistenciais.
Mexer nisso a fim de liberar recursos públicos para outras áreas e conter o atual rombo será um dos maiores vespeiros de Temer.
E uma grande bandeira para as críticas da nova oposição que começa a sair para as ruas.
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