Igor Gielow - Folha de S.Paulo
O governo de Michel Temer (PMDB) começou, para todos os efeitos, com o voto que definiu a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) pela Câmara dos Deputados.
O inusitado será a presença do cadáver político da petista no Palácio do Planalto até o prosseguimento do processo no Senado.
No mundo político, quase ninguém acredita que haja a possibilidade de virar os votos suficientes já declarados de senadores para permitir a abertura do julgamento. E, isso acontecendo, parafraseando a própria Dilma, a presidente é "carta fora do baralho".
Nos últimos dias petistas vendem a noção de que Dilma resistiria ao julgamento no Senado, que tem prazo máximo de 180 dias, e não emularia Fernando Collor, que renunciou para tentar sem sucesso evitar sua condenação.
Pode ser, afinal de contas falamos de política no Brasil e a resiliência de Dilma é notória. Restará a ela assumir um tom de campanha contra o que chama de golpe, mas a perspectiva de poder mudou de endereço.
Deslocou-se neste domingo do Palácio da Alvorada para a mais modesta residência oficial do Jaburu, a 1,3 km de distância.
Deslocou-se neste domingo do Palácio da Alvorada para a mais modesta residência oficial do Jaburu, a 1,3 km de distância.
Teremos então uma presidente cuja gestão foi emasculada constitucionalmente e um vice à espera de colocar a faixa, que atrairá todas as atenções. Há expectativa enorme de agentes econômicos para ver como o peemedebista vai tentar sair da encalacrada crise econômica em que o país está.
Além disso, as hordas que vieram para seu lado no Congresso vão querer saber como serão recompensadas por sua fidelidade de última hora. Faturas serão cobradas.
Para quem precisará obrigatoriamente transmitir ao país uma imagem de retidão administrativa depois do caos deixado pelo PT, será uma missão complexa: como, por exemplo, reduzir ministérios e agradar a todos os neoaliados?
Quem conhece o vice sabe que não é de seu temperamento grandes arroubos ou anúncios bombásticos, mas algumas pessoas de seu entorno argumentam que é necessário criar um fato político que galvanize apoios na sociedade para a transição do pós-Dilma.
Outros dizem que o fato foi dado pela derrota do PT na Câmara, e que o resto virá por gravidade. Pode ser, mas a conta não fecha com os elementos colocados à mesa.
E Temer terá de lidar não só com o espectro de Dilma e a previsível movimentação de rua que as tropas organizadas da esquerda farão. Terá um adversário muito mais formidável para enfrentar, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em que pese sua desidratação, visível com o fracasso na operação de tornar-se superministro de Dilma e garantir a vitória contra o impeachment na Câmara, Lula tentará iniciar sua campanha à Presidência nesta segunda (18).
A derrota de Dilma foi boa notícia para ele, relativamente: ganhou um discurso, o de que o PT foi vítima do que chamam de golpe, e poderá se afastar paulatinamente da impopular sucessora.
Mas não será o passeio que seus admiradores propagandeiam. Lula está desgastado politicamente, como se viu na negociação que antecedeu a votação do domingo, e tem as operações Lava Jato e Zelotes em seu pé.
Se tudo o que os investigadores especulam ser possível desvendar sobre a atuação do petista for real, ele passará muito tempo tendo de se explicar nos próximos meses.
Esse é o cenário mais desolador para o PT. Virtualmente escorraçado do poder federal, com a perspectiva de ser dizimado no pleito municipal de outubro, o partido poderá perder a capacidade operacional de seu comandante máximo.
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