A presidente Dilma não foi derrotada, ontem, pelas pedaladas fiscais, base jurídica da peça do impeachment. A derrocada se deu pelo conjunto da obra: a roubalheira. Nunca se roubou tanto neste País. Dilma perdeu pelas contradições do PT, um partido eleito pela bandeira da ética, que rasgou e a jogou no lixo. O PT mentiu, traficou influências, operou em Portugal, desviou dinheiro da Petrobras.
Destruiu a sétima petrolífera do mundo. A Câmara dos Deputados, em sua ampla maioria, que o Governo subestimou e disse que a oposição nunca teria números para aprovar o impeachment, mostrou, igualmente, que o Brasil não é a Venezuela. Houve capacidade de resistência das ofertas de ouro e mirra do Planalto. Houve resistência ao dinheiro, ao poder petista, à articulação do foro de São Paulo, que é uma organização de partidos de esquerda, capaz de libertar o Brasil.
Não foi um dia bonito. Foi um dia de sentimentos conflitantes no Brasil e no plenário da Câmara dos Deputados. Ouvir um voto como o do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que enalteceu o coronel torturador Brilhante Ustra, é de incomodar qualquer democrata, especialmente por ter sido acompanhado de aplausos.
Pouquíssimos discursos citaram o que estava ali para ser votado: se o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que trata de crime de responsabilidade por pedaladas fiscais, deveria ser aceito ou não. Apesar de todas essas contradições, é preciso entender a profundidade do que aconteceu nesse 17 de abril.
A votação da admissibilidade do impeachment foi o momento em que todas as contas foram apresentadas a um governo que errou na condução da política econômica e levou o país a uma depressão grave, o principal fator do processo político.
A partir de hoje, começa uma nova fase, no Senado Federal, com o suporte no rito aprovado pelo Supremo Tribunal Federal. Os brasileiros esperam que o Senado faça a sua parte para limpar o País. Daqui para frente, todos os governos vão saber que ninguém está acima da lei, que ninguém é dono do país, nem do estado, nem da democracia.
A votação expressiva na Câmara refletiu a vontade da maioria da população brasileira, que pediu pela mudança. Não é um momento fácil, mas é um momento para a união. Enfim, deputados ouviram a sociedade. Foi apenas um primeiro passo, mas de imenso significado para encerrar a crise política, recuperar a economia e gerar empregos.
A paciência dos brasileiros passou dos limites, somente com união será possível construir a esperança de superar a crise, que aos poucos devolverá segurança aos brasileiros. No impeachment do Collor, o PT fez valer a Constituição. E agora vimos valer a mesma Constituição. A situação política é tão grave que colocou o país numa crise econômica.
Com todo o esforço visto nos últimos dias, maratona de conversas com deputados e nomeações publicadas no "Diário Oficial", o governo obteve apenas 137 votos, ou 27% dos 513 votos na Câmara. Com base tão frágil, difícil imaginar que o governo Dilma pudesse se reorganizar – caso a oposição não tivesse reunido mais do que os 342 votos necessários para aprovar a admissibilidade do processo de impeachment da presidente.
Havia os que simplesmente são de oposição e votariam pela continuação do processo, com ou sem motivo. Mas 73% de votos favoráveis à admissibilidade da denúncia mostram que o governo foi derrotado com votos oriundos de sua esfacelada base de sustentação. Eram políticos de partidos que até recentemente faziam parte da base parlamentar e apontavam no plenário uma série de queixas de abandono de seus redutos ou dos reflexos da crise econômica.
Depois desse difícil dia, será preciso reorganizar o País. Não será fácil, nem na política, nem na economia. Os deputados fizeram o que a maioria dos eleitores queria, como mostram as pesquisas de opinião. Contudo, o vice Michel Temer terá que tentar convencer que tem um projeto para a retomada do crescimento e organização do país dividido, enquanto também responderá as acusações contra ele na Lava Jato.
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