Por Moreira Franco
Presidente da Fundação Ulysses Guimarães ( PMDB )
Presidente da Fundação Ulysses Guimarães ( PMDB )
O artigo do deputado Afonso Florence (PT-BA) sobre o documento do PMDB, “Uma ponte para o Futuro”, guarda coerência entre o titulo, “Volta ao Passado” (O Globo, 08.02.16), e as conseqüências das propostas apresentadas pelo parlamentar.
O líder do PT na Câmara enumera as conquistas econômicas e sociais obtidas por mais de 40 milhões de brasileiros na década passada, mas não se detém, pois não explica, nas razões que estão levando os brasileiros, nos últimos dois anos, a perder tudo o que conquistaram.
E mais, passa ao largo do violento retorno da inflação e do desemprego. Ou seja, o líder do PT exalta conquistas que já não existem mais. Assim, escamoteia essas duas desgraças que se abatem sobre todos nós, desconhecidas dos que hoje estão com até 35 anos. Estes, por não terem convivido com a inflação e com o desemprego não sabem se proteger. Terão que aprender nesse retrocesso ao passado.
Foram os erros acumulados e não reconhecidos da política econômica do governo atual que desmontaram os fluxos econômicos e sociais que garantiam taxas expressivas de geração de empregos e renda, inflação controlada, valorização do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, superávit primário, dívida pública administrada e amplos investimentos em infraestrutura.
Tudo isso acabou. Eram políticas públicas que faziam o país crescer e os brasileiros, sobretudo os jovens, as mulheres e os negros, conquistarem novos espaços sociais com a renda do seu trabalho.
Acabou por erros internos, por equívocos de uma política econômica errática, predatória de nossa capacidade instalada, irreal. Sustentada em crenças ideológicas, com a pretensão de substituir a aritmética na gestão cotidiana da vida econômica.
Como a ideologia não tem esse poder, equações econômicas, simples e complexas, em todas as áreas do sistema produtivo, foram resolvidas sem o uso das quatro operações fundamentais: somar, dividir multiplicar e diminuir. A desorganização tem sido de tal grandeza que estamos envolvidos na mais grave crise econômica de nossa historia a determinar os rumos da vida política do país.
Os direitos trabalhistas, por outro lado, não são uma questão ideológica, mas objetiva e efetiva. Eles são justos e servem à sociedade quando somam produtividade, diminuem ineficiências, dividem resultados e multiplicam oportunidades. Por isso o caminho da Ponte para o Futuro é de ampliação, modernização e universalização destes direitos.
Por fim, as criticas do deputado Florence à nossa proposta mostram que não há entendimento correto dos instrumentos de política econômica usados pelo ex-presidente Lula, no começo do seu primeiro governo.
O êxito alcançado no mais severo ajuste econômico de nossa história permitiu que Lula criasse as oportunidades que fizeram o Brasil ser o mais bem sucedido do mundo na diminuição da desigualdade social. E são estas as conquistas que o governo da presidente Dilma está pondo a perder, por não ter um programa coerente que tire o país da crise e, mesmo que o tivesse, por não ter o apoio político e parlamentar do PT para aprová-lo.
O Brasil ganharia bastante se as lideranças do PT, seus militantes e parlamentares, as autoridades econômicas do governo lessem ou relessem um documento histórico, A Carta aos Brasileiro, lançado por Lula em 2002 . Os compromissos contidos na Carta foram todos cumpridos com rigor e determinação, o que permitiu êxitos econômicos e sociais extraordinários.
O Ponte para o Futuro não buscou a originalidade, mas o que é certo, testado, bem sucedido. Os fundamentos macroeconômicos da Carta aos Brasileiros são os mesmos contidos no Ponte para o Futuro que, por sua vez, já estavam presentes no Plano Real.
Inflação controlada, responsabilidade fiscal, superávit primário, gastos possíveis, segurança jurídica, são práticas que já pertencem ao povo brasileiro. Não são do PT, do PSDB nem do PMDB. Não é liberal, conservadora, ou social-democrata. Não é de ninguém. São conquistas de todos que querem viver com emprego, casa, comida e igualdade de oportunidades na certeza de que seus filhos viverão em condições melhores.
A Ponte faz o Brasil retornar a esse futuro: emprego, renda e paz social. O líder do PT na Câmara dos Deputados quer um salto para o passado da hiperinflação, do desemprego. O passado da década perdida.
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