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Lava Jato: empresa tinha estoque de offshores

Afirmação foi feita por gerente da Mossack Fonseca presa na 22ª fase. Offshores abertas pela empresa são investigadas por lavagem de dinheiro.
Do Portal G1 - Fernando Castro
Em depoimento à Polícia Federal (PF) a gerente da Mossack Fonseca Renata Pereira Britto, presa na 22ª fase da Operação Lava Jato, disse que a empresa disponibilizava aos clientes um “estoque de empresas de prateleira” no exterior. As offshores, segundo Renata, já vinham inclusive com diretoria constituída e o cliente precisava apenas escolher um dos nomes da lista fornecida pela Mossack.
Renata foi ouvida pela PF no fim de janeiro, enquanto esteve presa, mas só agora o depoimento foi tornado público. O Ministério Público Federal (MPF) anexou o documento junto ao procedimento judicial em que pede para que o juiz Sérgio Moro analise uma possível quebra de acordo de delação premiada de dois investigados.
Os procuradores apuram a possibilidade de que Roberto Trombeta e Rodrigo Morales tenham omitido a sociedade em empresas no exterior ao firmar o acordo de colaboração com o MPF, o que infringe as regras da delação. Parte da suspeita foi levantada a partir do depoimento de Renata Pereira Britto, que relatou que os dois eram clientes da Mossack Fonseca em diversas offshores, várias delas desconhecidas pelos procuradores.
No depoimento, Renata detalhou os serviços oferecidos pela Mossack Fonseca Brasil, que era cliente da Mossack Fonseca Panamá, a matriz. Segundo ela, a empresa estrangeira constituía as offshores “de prateleira” e fornecia à brasileira em consignação, para que fossem oferecidas aos clientes do país.
“O cliente interessado na constituição da empresa recebe uma lista contendo diversos nomes de empresas já existentes e escolhe qualquer uma delas ao custo de dois mil e quinhentos dólares, mais mil oitocentos e setenta e sete de anuidade”, explicou a gerente da Mossack Fonseca Brasil.
Ainda de acordo com Renata, que era responsável pelo contato com os clientes, vários não queriam que as offshores ficassem no nome delas, preferindo registrá-las em nome de terceiros. “Para isso, a Mossack Fonseca Brasil oferece um serviço de diretores já contratados pela Mossack Fonseca Panamá”, detalhou. A constituição de diretoria faz parte das exigências de registro, mas os clientes poderiam mudar a diretoria, caso desejassem.
A gerente disse que não tinha conhecimento do uso que os clientes da Mossack Fonseca faziam das offshores adquiridas, mas que geralmente eram casos de proteção patrimonial. Ela negou, porém, que a Mossack atuasse como consultora para blidagem de patrimônio, ou ocultação de recursos no exterior.
Lavagem de dinheiro
Ao autorizar a prisão de Renata Pereira Brito e outras pessoas ligadas à Mossack Fonseca, o juiz Sérgio Moro destacou que várias off-shores constituídas por intermédio da Mossack Fonseca foram utilizadas em esquemas de lavagem de dinheiro apurados por outras etapas da investigação de desvios na Petrobras.
Como exemplo, cita off-shores controladas pelo ex-diretor da estatal Renato Duque, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, e o operador Mário Góes. Todos já foram condenados e ainda respondem a outros processos derivados da Lava Jato.
“Teriam utilizado as referidas off-shores para abertura de contas no exterior através das quais ocultaram e dissimularam produto do crime de corrupção no esquema criminoso da Petrobras”, afirmou o juiz.
Além disso, a Mossack Fonseca é investigada ainda por abrir a offshore Murray Holdings, que assumiu a propriedade de um dos imóveis no Condomínio Solaris, em Guarujá (SP), para esconder os reais donos.
Documentos escondidos
Renata Pereira Britto contou à Polícia Federal que, ainda em 2015, a controladora da Mossack Fonseca no Brasil Maria Mercedes Riano Quijano determinou que ela guardasse em casa documentos de alguns clientes, pois não queriam que eles ficassem guardados na empresa.
Renata diz que não sabe que documentos eram esses, mas confirmou que eles foram apreendidos pela PF durante a 22ª fase da Lava Jato. Após cinco dias presa, Renata Pereira Britto foi solta porque o juiz Sérgio Moro entendeu que ela tinha um papel secundário nos crimes apontados pelas investigações.
Já os reais controladores da Mossack Fonseca Brasil, Maria Mercedes e Luiz Fernando Hernandez Rivero seguem foragidos da polícia desde então.

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