Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
De volta das férias, os congressistas ouviram ontem um apelo do senador Renan Calheiros: "Se 2015 foi o ano que não começou nem terminou, conclamo o Parlamento brasileiro a retomar seus esforços para que tenhamos, em 2016, um ano que tenha início, meio e fim".
O pedido do presidente do Senado pode ter animado o Planalto, mas não parece ter sensibilizado seus colegas. Foi o que indicaram as reações à visita de Dilma Rousseff para ler sua mensagem anual ao Legislativo.
A presidente pediu apoio a uma agenda de medidas impopulares, como a recriação da CPMF e a reforma da Previdência. Antes de ela deixar o plenário, aliados já reconheciam que as chances serão pequenas.
"Hoje é mais fácil conseguir votos contra o impeachment do que a favor da CPMF", dizia um vice-líder do governo. Seu raciocínio era simples: qualquer aumento de imposto tira votos, e os parlamentares não costumam se sacrificar em ano eleitoral.
No caso da mudança de regras para a aposentadoria, o primeiro obstáculo deve ser o próprio PT. Parlamentares próximos ao ex-presidente Lula defendem que a direção do partido se manifeste contra a proposta.
É o que a oposição espera para anunciar que também votará contra o governo, apesar de se dizer a favor da responsabilidade fiscal. "A presidente quer a nossa ajuda sem ter o apoio da própria base?", questionava o senador tucano Aécio Neves, depois de alguns de seus aliados vaiarem Dilma durante a solenidade.
Na Câmara, o ambiente também continua hostil para o Planalto. O deputado Eduardo Cunha promete suspender todas as comissões enquanto o Supremo Tribunal Federal não julgar seu recurso contra a decisão que freou o processo de impeachment.
Na verdade, a única prioridade do correntista suíço é escapar da cassação, mesmo que isso custe a paralisia do Congresso e o adiamento de votações importantes. No que depender dele e de sua tropa, 2016 também não deve começar nem terminar.
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